jeudi, août 24, 2006


IL POSTINO

Eu sempre gostei muito de ler, e por isso, sempre gostei também de escrever. Mesmo não sabendo escrever e tendo plena consciência deste fato (sou gramaticalmente uma catástrofe), sempre tive, por exemplo, na adolescência, um caderno ou agenda onde eu escrevia minhas impressões do dia. Geralmente, os momentos de tristeza eram a minha maior fonte de inspiração: eu escrevia sobre aquele sentimento de angústia em folha de caderno, em guardanapo, em embalagem de chocolate... e depois guardava em algum lugar. E, claro, a tal prova daquele momento de desesperança simplesmente caía no esquecimento, já que a felicidade mora ao lado: a tristeza tem vida curta na minha vida. Ainda bem pra mim.

Até alguns anos atrás, eu sempre tive muita dificuldade de ler o que eu escrevia (várias vezes eu me deparava com um dos vários textos escritos há anos-luz, ao folhear um livro ou caderno do passado). O que eu descobri, no final das contas, é que eu tinha vergonha de ler aquelas mal traçadas linhas. Hoje eu sei que a vergonha existia não por encontrar erros ou porque perceber que eu nunca poderia me tornar uma escritora de renome (muuuuito longe disso), mas sim pelo fato de não estar mais triste e de achar meio patético o fato de ter me sentido daquela forma. E quando às vezes, muito tempo depois, eu relia a bendita folha de papel, o ar patético se transformava em risinho-no-canto-da-boca, por saber que as minhas emoções adoram a montanha-russa que é a vida.

Neste último ano, o tipo de texto que mais me agrada não tem muito a ver com bilhetinhos ou rabiscos adolescentes de outrora. O que mais movimentou minha vida durante estes 12 meses foi a chegada do carteiro, cada manhã. É claro que o conteúdo das cartas que eu tanto ansiava receber não era nada poético ou informal (muito pelo contrário) quanto meus textos, mas nem por isso deixavam de ter o um enorme teor dramático, dependendo da resposta.

E foi assim, por quase 365 dias. As primeiras respostas recebidas me mostravam um caminho tortuoso demais, e estas mesmas me fizeram voltar ao hábito de adolescente: os pedaços de textos exprimindo sentimentos plenos de tristeza começaram a aflorar. Mais uma vez. Mas, como sempre, eles não duravam muito: as outras dez mil razões de existir me traziam sempre de volta à tona. Até a última carta recebida, na semana passada. Que trouxe finalmente um raiozinho de esperança e me tirou do poço completamente, acompanhada de uma boa notícia. Santo carteiro!!! Abençoado seja!!

Infelizmente (ou felizmente??) eu não estava em casa quando meu mais novo santo deixou as boas-novas na minha caixa de cartas. Mas agora, acho que entendo melhor o porquê da existência de anedotas sobre a infidelidade feminina com carteiros (ou leiteiros, depende do seu contexto)... :-)

1 commentaire:

Anonyme a dit…

eu tb sempre escrevia minhas angústias e alegrias...as vezes até criava códigos (para as confissões inconfessáveis) guardava tb ...e, passado um tempo, ... não conseguia ler...e quando lia, ...ai.... tb tinha a mesma sensação que a sua... mas, era crítica tb!!!! nossa!!! quantos erros de português rsrsrsrsrs quanta bobagem ... etc...

enfim! sou normal!...
obrigada.

beijos. Iva.