TRABALHAR MENOS, GANHAR MENOS & VIVER MELHOR



Lendo meu jornal de todo dia, me deparei com um comentario sobre a matéria de capa da ediçao especial de um outro jornal que aparece uma vez por semana, o Courrier International que me intrigou um tanto: travailler moins pour gagner moins et vivre mieux (infelizmente o acesso é reservado a assinantes). Em tempos de "workaholics" e de presidentes hiperativos (Sarkozy), uma expressao criada ainda nos anos 80, a "simplicidade voluntaria" ("simplicité volontaire" ou, em inglês, "downshifiting") significa reduzir a carga de trabalho para se viver melhor. E tal comportamento nao significa necessariamente pauperizaçao ou ir contra o materialismo comum a nossa época, mas sim uma forma de consumir de forma mais responsavel, de forma a respeitar um pouco mais o meio-ambiente e a poder se permitir mais lazer e consequentemente mais prazer.

Daih eu fiquei pensando aqui com meus botoezinhos que desde que me instalei na Suiça, ha pouco mais de 5 anos, de certa forma essa "filosofia" começou a me influenciar, mesmo que inconscientemente. Tudo bem que continuo no meu status de "eterna estudante" desde que cheguei aqui, mas tendo vindo pra cah estudar e sozinha, tive de me manter, pagar aluguel, comer, reservar o dinheirinho pras cervejas e vinhos de fim-de-semana, e etc, mas mesmo nao tendo tido empregos muito "desafiadores", que demandassem um esforço monumental do meu cérebro, depois dos dois primeiros anos aqui, eu percebo que eu comecei a me dar ao luxo de trabalhar menos pra poder descansar mais, jah q conciliar trabalho e vida universitaria aqui é por vezes ainda mais dificil que no Brasil, jah q estudar regularmente (ou seja, ler as 50 paginas recomendadas pelo professor antes da aula e depois sair da aula e ir pra biblioteca passar pelo menos umas duas ou três horinhas revendo o q vc acabou de ouvir) tem uma importância diferente do que a gente tah geralmente acostumado no Brasil (claro, sem levarmos em conta as exceçoes). Me lembro que no meu ultimo emprego, onde me atribuiram até um pouco mais de responsabilidade e me fizeram finalmente usar um pouco do meu cérebro, simplesmente recusei a oferta de aumentar minhas horas de trabalho prq claro, ainda tenho de priorizar os estudos (mesmo se ainda assim seria compativel com minha carga horaria de estudos) mas soh de pensar que eu teria soh os sabados e domingos pra descansar melhor e me divertir um pouco mais (o que era super comum qdo eu ainda estava no Brasil) me fez nao aceitar a proposta.

Percebo que hj durmo muito mais horas que costumava dormir quando eu ainda morava no Brasil, por exemplo; viajo muito mais; "I take my time" pra realmente apreciar o sabor e a consistência de cada ingrediente no meu prato; etc.

Tudo isso me fez concluir que sim, de repente me tornei um "tiquinho" menos capitalista (no sentido de consumo desenfreado, de querer sempre mais e mais) e que, com um pouquinho menos de ambiçao (isso nao significa que nao aspiro a um bom emprego - sim, soh nao quero mais morrer de trabalhar), a gente encontra tempo pra ganhar o pao e aproveitar do pao, o que é de certa forma um privilégio. Mas infelizmente, esse é "quase" que um privilégio de pais europeu ou de primeiro mundo, prq eu sei que morando no Brasil, a equaçao: trabalhar menos + ganhar menos = viver melhor é reservada pra uma porcentagem reduzidissima da populaçao, que precisa na verdade: trabalhar mais + ganhar quase nada a mais = pra sobreviver.